domingo, 21 de abril de 2013


E. E. Leonor Quadros
Nome____________________________________________nº______3º_______
Professora Cida - Prova Bimestral de Língua Portuguesa
Uma vela para Dario
                                                                                                         Dalton Trevisan
        Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
        Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
        Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
       Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
        A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem vai pagar a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede – não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
        Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.
         Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delícias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
         Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados – com vários objetos – de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade, sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
         Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu contra a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.
         O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo – os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio – quando vivo – só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.
          A última boca repetiu – Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.
       Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram fazias. Na janela alguns moradores – com almofadas para descansar os cotovelos.
        Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
         Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado mais da metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.
            Responda as questões abaixo:

1)      Por que uma vela para Dario é um conto?
2)      Qual trecho do conto sugere que havia muita gente em volta de Dario?
3)      Qual trecho revela pela primeira vez que as pessoas estavam roubando Dario?
4)      Que outros trechos revelam tal atitude dos passantes?
5)      Que elementos do texto revelam que as pessoas viam o problema de Dario como um espetáculo, uma diversão que quebrava a rotina do dia?
6)      Há duas tentativas de ajudar mais efetivamente Dario que não vão em frente. Por que as pessoas não levaram Dario para o hospital e nem à farmácia?
7)      Para você as atitudes observadas revelam o que sobre as pessoas? Sua magnanimidade, sua mesquinhez, sua bondade, sua solidariedade, seu descompromisso?
8)      Por que a única pessoa nomeada com o nome próprio pelo narrador é Dario?
9)      Por que as pessoas fugiram correndo quando a polícia chegou?
10)   Quais as duas atitudes de piedade e consideração não mescladas de curiosidades aparecem no conto?

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